Crimes em Lençóis e Antônio Gonçalves, ocorreram em menos de uma semana; uma das vítimas foi atingida por mais de 10 tiros e teve cabeça esmagada
Dois moradores foram mortos em comunidades quilombolas da Bahia em menos de uma semana. O primeiro crime aconteceu no Território Quilombola Jiboia, no município de Antônio Gonçalves, Centro-norte baiano, na última quinta-feira (13). Segundo informações do delegado substituto Leonardo Virgílio Oliveira, o trabalhador rural José Raimundo Mota de Souza, 36 anos, estava em uma roça com o irmão quando aconteceu o crime.
“Ele saiu de sua residência por volta das 7h, junto com irmão e foram trabalhar em uma roça na Fazenda Morro. Eles permaneceram lá até as 15h, quando foram até o carro, uma D10, pegar mandiocas em outra roça, foram surpreendidos por um carro preto com quatro indivíduos”, contou o delegado.
Ainda de acordo com Oliveira, um dos homens foi em direção ao irmão de José Raimundo e o agrediu. Um outro suspeito atirou diversas vezes na vítima. José Raimundo foi baleado na cabeça, tórax e abdômen. Os suspeitos estavam com roupas camufladas e armados com pistolas.
Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Raimundo foi atingido por mais de 10 tiros e teve a cabeça esmagada. Ainda de acordo com a CPT, os suspeitos fugiram atirando para cima.
A CPT emitiu uma nota informando que José Raimundo fazia parte da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores na Bahia, e que contribuía há anos “com a luta pela regularização do território quilombola da sua comunidade”. Mas desde o ano passado, José Raimundo tinha se afastado das atividades do movimento, após o assassinato do líder quilombola conhecido como João Bigode, no mesmo município.
Segundo o delegado Leonardo Virgílio, a polícia não tem informações de que José Raimundo atuava como líder na comunidade quilombola. Em nota, a Superintendência Regional do Incra na Bahia informou que a vítima presidia a associação dos trabalhadores quilombolas da comunidade. O órgão lamentou a morte do trabalhador e informou que está aguardando as investigações sobre o crime.
A CPT também lamentou a morte do trabalhador. “Exigimos das autoridades responsáveis medidas urgentes para investigação de mais este crime e punição dos culpados!”, diz a nota emitida pela comissão.
Lençóis
O último crime em comunidade quilombola aconteceu neste domingo (16), no Território Quilombola Iúna, em Lençóis, na Chapada Diamantina. Lindomar Fernandes Martins, 35, foi morto a tiros numa estrada que dá acesso ao povoado, durante a madrugada.
Segundo informações da delegada titular de Lençóis, Mariela Campos Sales, Lindomar estava sozinho no momento do crime e não há detalhes de como aconteceu o assassinato. “A gente só tem a informação de que teve um disparo de arma de fogo, mas ainda não temos a conclusão da perícia”, explicou. Lindomar trabalhava em uma pousada no Centro de Lençóis e não há informações sobre o que pode ter motivado o crime.
Familiares de Lindomar já foram ouvidos pela polícia. Segundo a delegada Mariela, eles negaram que a vítima fosse liderança na comunidade ou tivesse algum envolvimento com conflitos de terras. “A gente ainda está investigando isso. Estamos ouvindo populares da região, porque é um povoado muito pequeno”, afirmou a delegada.
Delimitação de terras
Segundo o Incra, o Território Quilombola Jiboia tem o Relatório Técnico de Identidade e Delimitação (RTID). O órgão informou, em nota, que “notificou os proprietários dos imóveis rurais inseridos no perímetro e atualmente transcorre o prazo de 90 dias em que cabe a contestação por parte dos proprietários”.
Já a Território Quilombola Iúna também está com o RTID pronto, mas ainda será apresentado ao Comitê de Decisão Regional da instituição. O relatório é uma das etapas do processo de delimitação de um território quilombola, reivindicado por remanescentes de quilombos.(Correio 24 horas)