Apesar de se caracterizar como o maior sistema público de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS) acumula uma série de críticas tanto dos usuários quanto da classe médica. Para o presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), Robson Moura, a principal origem dessas questões está na base: a formação dos médicos. “Hoje o Brasil tem aproximadamente 400 mil médicos. Com essa abertura de forma indiscriminada de escolas de medicina, nós teremos em torno de 1,2 milhão daqui a oito anos, ou seja, a gente vai ter que procurar lugar para médico trabalhar. Vai ter médico demais para a quantidade de atendimento.
Não somos contra a abertura de escolas de medicina, [mas] nós entendemos que a escola precisa ter condição de abrir”, explicou em entrevista ao Bahia Notícias. O profissional apontou como exemplo a liberação de cursos de medicina em municípios que não possuem hospitais, onde os estudantes poderiam praticar o conteúdo adquirido. O ensino inferior leva ainda a mais um problema frequentemente apontado pelos profissionais do meio: o desperdício de exames e, consequentemente, financeiro. De acordo com Moura, é bastante comum que médicos menos qualificados solicitem procedimentos desnecessários, que muitas vezes nem são recolhidos pelos pacientes.
“A partir do momento que você tem um médico mal formado, a tendência é pedir mais exames para ele se sentir seguro do diagnóstico. Ele enche o doente de exame e isso encarece o custo. É como uma corda de caranguejo, se puxar um, todos vêm juntos”, avaliou. Para além do ensino, o presidente da ABM ressaltou deficiências no próprio sistema de saúde brasileiro, com especial atenção para o baixo investimento em medicina de média complexidade. O grande problema é que a maioria dos pacientes do SUS está incluída nesta categoria. “Foram fechados no Brasil, nos últimos 10 anos, 25 mil leitos do SUS porque o governo federal investiu muito dinheiro na atenção básica e na alta complexidade. No meio, onde está a maioria dos internamentos clínicos e cirúrgicos, foi jogado fora”, criticou Moura. “O paciente fica batendo de porta em porta para buscar atendimento”, acrescentou.
Quando questionado sobre a efetividade das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), anunciadas como solução para desafogar emergências de hospitais públicos, o profissional foi categórico: “A UPA é um remédio amargo que serve, mas não resolve o problema”, que está relacionado a todo o sistema existente em volta. (Bahia Notícias)