A comemoração aconteceu em Seabra/BA, Chapada Diamantina, e na oportunidade foi lançado o Álbum Biográfico, obra que conta a história da organização
O Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP) reuniu colaboradores, parceiros, autoridades, educadores, especialistas em educação e representantes da comunidade hoje (18.11), às 19h, no Chapada Hotel, no município de Seabra/BA, Chapada Diamantina, para celebrar os 20 anos da organização. Na oportunidade, foi lançado o Álbum Biográfico, uma publicação que registra momentos marcantes da história da organização.
O prefeito de Seabra-BA, Fábio Lago Sul, o secretário de Educação do município, Enoque Francisco de Jesus, o prefeito de Andaraí, João Lúcio Passos Carneiro, a secretária de Educação da Cidade, Isa Dourado, o prefeito de Boa Vista do Tupim, Helder Lopes Campos (Dinho), a secretária de Educação, Maria Vilma Pereira, o prefeito de Souto Soares, André Luiz Sampaio Cardoso, a secretária de Educação do município, Neucimares Pereira Dourado, o prefeito de Palmeiras, Ricardo Guimarães, o vice-prefeito Wilson Rocha, o prefeito de Iraquara, Edimario Guilherme de Novais, o vice-prefeito, Nino Coutinho, a secretária de Educação do Município, Simone Neves Pinto, a secretária de Educação de Tapiramutá, Mary Ribeiro Marques Ferraz, e o secretário de Educação de Ibitiara, Ricardo de Oliveira, participaram do evento.
Duas décadas depois, a semente plantada no Programa de Desenvolvimento e Auxílio ao Professor, em Palmeiras, com o desenho inicial da tecnologia dos territórios colaborativos pela educação, cresceu e se transformou em árvore frondosa. Hoje, com raízes sólidas, o ICEP colhe os frutos do trabalho pela melhoria da qualidade da escola pública e espalha novas sementes.
Que plantio está sendo feito e o que se espera colher no futuro? Fruto de um trabalho de planejamento estratégico para ganho de escala, a rede de municípios parceiros do Instituto foi ampliada. Em 2015, teve início a atuação na capital baiana, com a Formação do Território Colaborativo pela Educação de Salvador, composto por dez regionais. Em julho deste ano a parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SMED) foi renovada e o ICEP começou uma nova etapa do Nossa Rede – Projeto Pedagógico de Salvador, que tem o propósito de melhorar a aprendizagem dos alunos da rede municipal de ensino.
“Adaptar nossa metodologia e tecnologia para um município de grande porte foi um desafio enriquecedor”, explica a diretora-presidente e CEO do ICEP, Cybele Amado. Um dos destaques do trabalho do ICEP na capital baiana foi a produção dos cadernos pedagógicos de Língua Portuguesa e Matemática, do Ensino Fundamental I, construídos em 2016, de maneira colaborativa com os educadores da rede municipal. Além da primeira experiência com a Plataforma Digital Nossa Rede, para a dinamização do trabalho com a rede escolar de Salvador.
Entre os marcos do ICEP em 2017, além da celebração dos 20 anos do Instituto, está a Formação do Território dos municípios de Camaçari e de Vitória da Conquista, na Bahia. “E ainda temos muito a fazer: o ganho de escala e a adoção das novas tecnologias para ampliar o trabalho estão em nosso planejamento”, ressalta Cybele Amado.
Na última segunda-feira (13.11), o ICEP realizou o Seminário Territorial de Sensibilização e Mobilização, para gestores escolares, coordenadores pedagógicos, professores e equipes técnicas da Secretaria da Educação de Camaçari (Seduc). O encontro se estendeu até terça-feira, a fim de atender aos educadores e gestores de escolas da sede e da orla. “O futuro do Icep é fazer cada vez melhor aquilo que sabe: caminhar com os municípios e ajudá-los a implementar políticas de formação continuada de professores na Bahia, no Nordeste e no Brasil”, enfatiza a CEO do Instituto.
Elisabete Regina Monteiro foi uma das quatro integrantes do primeiro grupo de formadoras do Projeto Chapada. Ela era professora em Salvador quando foi chamada a colaborar com a formação de colegas de municípios do interior do estado. Desde essa época, Bete “aprendeu a aprender” com os profissionais com os quais se relaciona: “Devo a cada um tudo o que sei”. Com isso, revela dois princípios marcantes da instituição. O primeiro é a crença de que ninguém é dono de todo o conhecimento; por isso, não há transmissão, mas construção do saber. O segundo: de que é na relação entre pessoas – entre os formadores e entre eles e os alunos – que todos aprendem. Atualmente, Bete é diretora pedagógica do ICEP e coordena o Território Salvador.
Onde tudo começou
A semente foi plantada em 1992, pela recém-formada professora Cybele Amado de Oliveira, que deixou Salvador decidida a contribuir para mudar a realidade da única escola de Caeté-Açu (conhecido como Vale do Capão), distrito do município de Palmeiras. A infraestrutura precária, a falta de apoio aos professores e a ausência de orientação às famílias comprometiam o desempenho dos estudantes, que não evidenciavam aprendizagem adequada à série/ano de escolaridade.
Cybele prestou concurso para tornar-se professora no Vale do Capão depois de tomar contato com o cenário devastador da educação naquela localidade. A visita à escola do distrito ocorreu num período folga, ela foi passar o Carnaval na Chapada e ali descobriu que podia fazer algo para mudar aquela realidade. Passou a ficar famosa por ensinar ao ar livre, para fugir dos percalços que os buracos no telhado da escola causavam.
Da vivência na sala de aula veio a certeza de que era preciso investir na formação de professores. Junto com a Associação de Pais, Educadores e Agricultores de Caeté-Açu, Cybele esboçou o Programa de Desenvolvimento e Auxílio ao Professor e o inscreveu no Programa Crer para Ver, da Natura Cosméticos e da Fundação Abrinq, em São Paulo. Durante dois anos, os professores da rede municipal de Palmeiras se encontraram uma vez por mês para discutir didática, tanto da alfabetização como de outras disciplinas dos primeiros anos do Ensino Fundamental.
Palmeiras/BA reduz índice de evasão em 80%
Secretária de Educação de Palmeiras à época em que o Programa de Desenvolvimento e Auxílio ao Professor foi implementado, Maria Rozalina de Oliveira Rôla entusiasmou-se com o que começou a acontecer nas escolas da rede e investiu nas propostas inovadoras, principalmente na criação do cargo de coordenador pedagógico: “Percebemos que, sem esse profissional, a educação não sairia do lugar”.
Com dois anos de formação continuada feita pelas educadoras do programa e mantida pela coordenação pedagógica nas escolas, o município reduziu o índice de evasão em 80% e o de repetência em 70%. Com esses dados em mãos e a notória motivação dos professores, a secretária tornou-se uma espécie de “garota-propaganda” do Programa. Divulgou os resultados a outros prefeitos e secretários de Educação e incentivou-os a participar da fase seguinte, na qual a formação se estenderia a outras localidades vizinhas a Palmeiras.
Uma iniciativa de formação como a que acontecia em Palmeiras não poderia ficar restrita a um só lugar. Afinal, os municípios da Chapada Diamantina precisavam de uma ação enérgica: o índice médio de analfabetismo das turmas do 2º ano – antiga 1ª série – da rede pública de toda a região chegava a 77%. O Programa Crer para Ver novamente foi o patrocinador da expansão. “Para continuar a parceria, escolhemos um projeto que estava fazendo diferença na comunidade e com uma liderança capaz de sustentá-lo”, afirma Guilherme Leal, presidente da Natura Cosméticos.
Na segunda fase, secretários municipais de Educação de 12 cidades somaram energias e recursos para escrever e materializar as diretrizes de um novo programa de auxílio ao professor, agora batizado de Projeto Chapada. Os encontros dos secretários foram agendados para acontecer mensalmente, cada vez em uma cidade. Foi num deles que nasceu o bordão que marcaria toda a trajetória do Icep: “Lendo o mundo para escrever a vida”.
Novo Horizonte: no topo da lista do IDEB
Novo Horizonte era o terceiro município mais pobre da Bahia quando Eudete Souza assumiu a Secretaria de Educação da cidade. Ao deparar-se com o índice de alunos que abandonavam a escola para trabalhar ou estavam matriculados em série abaixo da correspondente à idade, ela se assustou. Pensava em como resolver esses problemas quando visitou a Feira de Educação de Palmeiras. Encantou-se com os trabalhos. Pouco tempo depois, recebeu um convite para participar de um encontro, em Seabra, com secretários de Educação de municípios vizinhos.
Percebeu que não era a única a ter de enfrentar os péssimos indicadores educacionais. Durante um ano, os secretários – inclusive Eudete – escreveram juntos o Projeto Chapada. Eudete convenceu o prefeito da época sobre a importância de criar o cargo de coordenador pedagógico. “Alugamos motos. Enfrentamos estradas de terra, chuva. Tudo para levar coordenadores e professores para as reuniões de formação.”
Os esforços foram recompensados: os índices de evasão e repetência da rede municipal, hoje, são próximos a zero. Em 2016, Novo Horizonte apareceu novamente no topo de uma lista: desta vez, na do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Bahia, com nota 6,3, num vaidoso segundo lugar. Eudete nunca duvidou: “Valeu a pena”. Até o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município melhorou. Em 2016, a cidade está na 169ª posição, dos 417 municípios baianos.
Ibitiara em primeiro lugar
Em 2014, ao assumir pela segunda vez a Secretaria de Educação de Ibitiara, a professora Maria Sandra Santos fez uma exigência ao prefeito: dar continuidade
à política de formação de professores junto com o ICEP, iniciada quando ainda era Projeto Chapada. Condição aceita, ela prosseguiu como gestora pública em circunstâncias bem distintas das encontradas duas décadas antes, quando ocupou o mesmo cargo.
Naquela época, ela não sabia como resolver os problemas de evasão e repetência do município, que tinha índices assustadores. Por isso, Sandra vibrou ao participar da mesma reunião com sua colega Eudete Souza e outros secretários municipais. “Ao escrevermos juntos o Projeto Chapada, criamos um vínculo que nos permitiu avançar: diante de qualquer problema, telefonávamos um para o outro a fim de encontrar uma solução.”
Com esse suporte, a educação de Ibitiara foi mudando. A primeira transformação ocorreu na própria política da secretaria, que passou a zelar mais pelo pedagógico, exigindo que os diretores escolares também se preocupassem com isso. Para atender todas as unidades de ensino – algumas escolas ficam a mais de 80 quilômetros da sede –, os coordenadores pedagógicos tiveram de tirar carteira para dirigir motocicleta: “Algumas coordenadoras não tinham coragem de aprender, mas venceram o medo para realizar o trabalho proposto”. Sandra é considerada a “mãe da educação no município” pelos colegas. “Não há mais evasão na rede municipal e o rendimento escolar está espetacular, bem acima do esperado – e vamos avançando ainda mais”, afirma ela. Quer uma prova – ou melhor, uma nota? Ibitiara é a campeã baiana do Ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com 6,5 na avaliação de 2015.
Progressão do IDEB em Souto Soares
Noé Matias de Souza é professor em Souto Soares. No início do Projeto Chapada, era coordenador pedagógico da rede municipal de ensino da cidade. Ele afirma que sempre enxergou a educação com olhos de esperança, sob o prisma da possibilidade: “Discutir os problemas pedagógicos da sala de aula com os colegas é o que faz a diferença”. Convicto de que a educação vai transformar o Brasil, Noé conta que, apesar de ter passado pela universidade, os momentos de aprendizagem mais significativos ocorreram nos encontros de formação continuada, em que as questões didáticas eram expostas e as soluções vinham do debate. “Quando o Projeto Chapada chegou a Souto Soares”, lembra, “não existia equipe técnica na rede”.
Porém, depois que esse grupo foi organizado, seus membros assumiram a formação interna, a gestão da aprendizagem, a criação e a revisão de políticas públicas e a orquestração do trabalho para unir as escolas em ideias e ações, dando continuidade ao trabalho iniciado pelos formadores do Projeto Chapada. O resultado não poderia ser melhor. A evasão escolar em Souto Soares, atualmente, é mínima, os índices de aprovação e alfabetização cresceram e as crianças avançaram no sistema de escrita. De cabeça, Noé apresenta a progressão do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) do município: em 2007, a nota foi 3,7; em 2009, 4,4; em 2011, 4,6; em 2013, 4,8; e, na última edição, de 2015, 5,3. Há duas décadas, o ICEP segue transformando a realidade do ensino público na Bahia. Derrubando todos os estigmas que limitam a escola pública, elevando índices de alfabetização, reduzindo a evasão escolar e estimulando a leitura.
Sobre o ICEP
O Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP) é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para tornar realidade o sonho do acesso universal à educação pública de qualidade. Sua atuação tem como princípio um modelo inovador enquanto tecnologia social, desenvolvido pelo próprio Instituto e batizado como Territórios Colaborativos pela Educação.
Com sede no município de Seabra, na Chapada Diamantina, e escritório de apoio em Salvador, o ICEP ancora sua metodologia na formação continuada de educadores, aliada à mobilização social pela educação. Ao longo de mais de 20 anos de história, o Instituto construiu sólida expertise na Formação de Equipes Técnicas, Coordenadores Pedagógicos, Gestores Escolares e Professores; na Gestão da Aprendizagem e Redes de Ensino; na Produção e Sistematização de Conhecimento; e na Mobilização de Atores Sociais e Políticos. Tudo isso é feito com participação ativa dos municípios parceiros, que são estimulados a planejar e atuar em conjunto, dentro de uma perspectiva territorial.(Núbia Cristina Analista de Comunicação – ICEP)
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