O ano de 2017 foi o quinto ano consecutivo em que o volume de chuvas ficou abaixo da média histórica do semiárido. Neste cenário, falar de seca para o presidente da União dos Municípios Baianos (UPB), Eures Ribeiro, é um “constrangimento”: “Esse é um problema de 300 anos que ainda somos obrigados a discutir. Em todo este tempo, nunca se encontrou uma alternativa para a seca do Nordeste”. Em 2017, cerca de 215 municípios baianos decretaram situação de emergência por conta da estiagem. Entre os prejuízos mais comuns para a ausência de precipitações estão a morte da lavoura, do gado e o sofrimento constante pela falta da água para consumo. Porém, para o representante dos prefeitos baianos, o grande vilão da equação não é a condição de falta de chuvas na região. “A seca é seca e o seminário sempre foi seco e continuará seco”, diz Eures.
“O que precisamos é de políticas alternativas que nos ensinem a conviver com a realidade do nosso sertão”, argumenta. O representante critica o que chama de “velha política do carro-pipa”. “Nuncas avançamos nas discussões da seca para além do carro-pipa”, declara. “Nunca foi nos dado uma alternativa para repensar a região do semiárido de forma diferente. Sempre foi o carro-pipa e quantos serão disponibilizados. Nunca foi diferente”, desabafa o prefeito de Bom Jesus da Lapa. O político acredita que soluções como as adotadas em Israel, que enfrenta até 9 meses de seca por ano, poderiam mudar o jogo na Bahia, uma vez que jamais falta água no país desértico. Entre as técnicas que tornam o feito possível estão a dessalinização, que transforma água do mar em doce, o reaproveitamento de aproximadamente 90% do esgoto para irrigação e recuperação de rios e ainda a construção de poços que chegam a três quilômetros de profundidade e trazem para as torneiras a água que está guardada há mais de 1 milhão de anos.
“Entra governo e sai governo e nunca foi pensado uma alternativa que cuidasse do semiárido e do Nordeste com políticas afirmativas adotadas em outros países que pudessem tirar o carro-pipa de circulação”, defende Eures Ribeiro ao dizer que a solução paliativa custa caro e não resolve o problema da seca nos municípios. Além do gasto elevado do deslocamento dos caminhões que carregam água, o governo federal ainda precisa do exército para a distribuição e o fornecimento desse “remédio”. “O que poderia ser feito com o gasto de 300 anos nesse tipo de equipamento?”, questiona o presidente da UPB que vê o problema por outro ângulo:
“O Nordeste sempre foi pensado como o quintal do submundo. Às vezes acho que querem que continuemos com o carro-pipa para o resto da vida”. Após cinco anos seguidos de volume de chuvas abaixo da média, a seca do semiárido já é considerada a maior do século. A região inclui, além do semiárido baiano, os estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o norte de Minas Gerais, contando com cerca de 23 milhões de habitantes.(BN)