“Hoje dificilmente um homem embarca em uma viatura da Polícia Militar (PM) com uma mulher e duvida da capacidade dela como profissional. Muitas de nós já passaram por lá e mostraram sua proficiência no serviço”. A afirmação da PM Denice Santiago Santos do Rosário, uma das nove majores mulheres da Bahia que há três anos comanda o batalhão feminino Ronda Maria da Penha, reflete uma faceta progressista da Polícia Militar no estado: a corporação baiana é uma das maiores quando o assunto é participação feminina.
Na Bahia, em 2013, aproximadamente 14% do efetivo de policiais militares do estado era de mulheres. O percentual, que representa o terceiro maior em participação do Brasil, segundos dados do IBGE, fica acima da média nacional, que gira em torno dos 9,8%. Atualmente, a tendência nacional é que se limite a participação feminina na PM a 10% do efetivo. A média é garantida por um sistema de cotas máximas para mulheres aprovadas em concursos da corporação. Na Bahia, essa mesma média é ultrapassada por um sistema que convoca, na segunda chamada dos concursos, os melhores classificados independente de gênero. “Nós queremos mesmo é que esse número se iguale. Homens e mulheres da PM em números absolutos iguais”, comenta Denice.
A medida foi adotada, segundo a major, como uma resposta do serviço da mulher na atividade policial. “Nós mostramos efetividade no nosso trabalho e isso nos concede condições”, comenta. “A concepção cultural do feminino traz à população um espaço de acalanto, um acolhimento diferenciado. Não é raro ver que, em uma dupla de policiais, civis procurarem as mulheres para perguntar uma informação ou até fazer um pedido de socorro”, argumenta a major que há três anos está no comando da operação de combate à violência contra a mulher que já conta com mais de 2 mil policiais. “A mulher na Polícia Militar deu a corporação a força que é necessária como também deu suavidade a essa força”, defende.
Por lei, é direito de mulher em situação de violência doméstica e familiar, o atendimento policial e pericial especializado prestado por servidoras do mesmo gênero. Questionada se o corpo da Ronda Maria da Penha consegue cumprir essa lei de acesso ao serviço de segurança, Denice foi enfática: “Até agora os homens têm cumprido esse papel, mas com a lei deveremos adequar as práticas”. “Se me perguntarem se eu gostaria de ter mais mulheres atuando na PM eu responderia prontamente ‘óbvio que sim’”, exaltou a major que completou: “Eu gostaria de ter mais colegas de farda ao meu lado”.
Se a presença de mulheres na PM está cimentada, o questionamento que fica é se essas policiais estão ocupando cargos altos no batalhões. A Bahia conta atualmente com nove majores, insígnia mais alta entre os oficiais da organização, atrás apenas de tenente-coronel e coronel. Do total, quatro dessas majores estão em comando de unidades, como Denice Santiago na Ronda Maria da Penha. “Daqui a pouco teremos tenentes-coronéis também. Cada mulher que é promovida, alcança destaque e vai criando uma nova história para todas as outras”, discursa a policial.
Quando o assunto é a existência de machismo na PM, comandante da Ronda Maria da Penha foi didática com o repórter: “A Polícia Militar da Bahia, como qualquer outra instituição é formada de pessoas da sociedade. A sociedade é machista e nós temos em diferentes âmbitos homens e mulheres que são machistas também. Apesar do cenário, hoje dificilmente um homem embarca em uma viatura da Polícia Militar (PM) com uma mulher e duvida da capacidade dela como profissional. Muitas de nós já passaram por lá e mostraram sua proficiência no serviço”.