Uma cuidadora que mora em Cariacica, na Grande Vitória, descobriu aos 46 anos de idade que o homem que acreditava ser seu pai é, na verdade, a pessoa que a sequestrou quando ela tinha apenas dois anos, no interior de São Paulo. A história veio à tona depois que Pedro Antônio Garcia morreu e a então filha, Simone Lopes Garcia, resolveu investigar a própria história a partir de dúvidas que tinha sobre seu passado.
Simone agora procura pela mãe biológica, Neide Aparecida Pereira, que ela sabe que hoje tem 66 anos, caso esteja viva.
A investigação de Simone
Simone contou que, depois da morte de Pedro em 2006, começou a investigar dúvidas que sempre teve sobre a família, por conta própria. Durante toda a vida, ouviu do pai que a mãe havia morrido, mas nunca acreditou totalmente nisso. Também tinha dúvidas sobre antecedentes criminais dele, por ser um homem muito violento e que a agredia.
“Sempre tive o sonho de ter minha mãe. Como meu pai era uma pessoa muito agressiva, já foi preso aqui por agressão, eu queria saber mesmo como tinha sido, se minha mãe tinha morrido mesmo. Fui atrás do atestado de óbito dela e nunca encontrei”, contou.
Ela resolveu procurar pela ficha criminal de Pedro e foi a madrasta que contou que ele já havia morado no município de Tanabi, interior de São Paulo.
“Liguei pra delegacia de lá e me disseram que tinha um crime ligado a ele que tinha gerado um processo, mas me disseram pra ligar pro Fórum. Uma pessoa desarquivou o processo a meu pedido. Acabei descobrindo que não era um processo de uma briga qualquer, por exemplo, era de sequestro, do meu sequestro”, contou.
O sequestro
Através do processo no Fórum de Tanabi, Simone descobriu que Pedro, na verdade, foi casado com uma prima do pai biológico dela.
No processo está anexado o boletim de ocorrência registrado pela mãe biológica de Simone, Neide Aparecida Pereira, junto à Polícia Civil. Ela registrou que no dia 7 de abril de 1975 foi buscar lenha nas proximidades de casa e, ao retornar, notou a ausência de Pedro e da filha Simone, que na época tinha dois anos de idade.
“Tinha um conflito entre o meu pai e a família da mulher que eu acreditava que era a minha mãe, eles não se entendiam e eu sofria agressões em casa. A minha avó queria me pegar para criar, porque acreditava que eu era filha da filha dela, mas éramos afastadas. Ele ganhou a minha guarda na justiça e a ultima vez que essa minha avó me viu foi quando eu tinha 15 anos”, contou.
Simone também contou que era bastante agredida fisicamente pelo pai e a madrasta, e também era abusada sexualmente por um filho de Pedro, 12 anos mais velho que ela, que um tempo depois ela descobriu que era adotivo.
“Ele abusou de mim dos quatro aos nove anos. Quando eu fiz nove anos, um amigo do meu pai foi lá em casa e perguntou se alguma filha poderia morar na casa dele, para ajudar a cuidar dos filhos dele, brincar, e eu disse que queria ir só para fugir daqueles abusos. Morei na casa dessa família até meus 14 anos e saí porque quase sofri um abuso lá também”, lembrou.