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Turismo tem prejuízo de R$ 62 bilhões e setor avalia que imagem do Brasil pode dificultar a retomada

O guia de turismo Vagner Santos atua na Chapada Diamantina, interior da Bahia, e conta que está há 75 dias sem renda. O parque nacional que atrai os visitantes teve de ser fechado por conta da epidemia de coronavírus. A alta temporada na região acontece neste mês e em julho. Eventos tradicionais da região tiveram de ser cancelados.

“Sou guia há mais de 18 anos, faço trekking [caminhada de trilhas] do Vale do Pati, um dos mais famosos do Brasil. Somos 2.500 habitantes nessa região que vive em torno do turismo, e no momento todo mundo está se ajudando e vivendo de doações”, afirma Santos.

Ele tem dois filhos e ainda não teve liberado o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. O guia de turismo avalia que os passeios na Chapada Diamantina só retornarão em fevereiro do ano que vem. Segundo a prefeitura de Mucugé, cidade referência da Chapada, em 2019 foram recebidos 120 mil turistas. Para 2020, a projeção inicial era de crescimento expressivo: a estimativa era de um total de 160 mil visitantes no ano.

As medidas de isolamento, que visam reduzir o grau de contágio da Covid-19 entre a população brasileira e evitar sobrecarregar o sistema de saúde nacional, afetaram o turismo, que é um serviço não-essencial. O prejuízo acumulado até abril é de R$ 62 bilhões, segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

“O momento atual do turismo brasileiro é dramático. Se a gente detalhar por setores, pode-se dizer que a hotelaria está majoritariamente fechada em todo o Brasil. Os que estão funcionando têm o nível de ocupação muito baixo”, afirma Alexandre Sampaio, diretor da CNC e presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação.

A taxa de ocupação nos hotéis está entre 3% a 5% e os voos das aéreas tiveram uma queda entre 90% e 95%. Há a previsão de 300 mil desempregados no setor. Segundo Mariana Aldrigui, pesquisadora da USP sobre o setor de turismo, as estimativas são de que só em 2023 o faturamento volte ao patamar que estava em dezembro do ano passado.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) citados pela FGV Projetos, o setor de turismo responde por 3,71% do PIB do país.

Imagem negativa

Um fator que deve piorar a situação do setor é a imagem negativa do Brasil em centros como Europa e EUA, ocasionada pelas críticas sobre as medidas de saúde federais na pandemia de Covid-19.

“O perfil de turista estrangeiro que costuma visitar o Brasil tem uma faixa etária entre 25 e 30 anos, profissão estabelecida e um nível de renda mais elevado. Essa pessoa costuma buscar informações sobre o destino que pretende visitar. Também pode contactar um agente de viagem que provavelmente vai sugerir que o Brasil não é um bom lugar para conhecer em tempo de pandemia. O problema é que não sabemos quanto tempo isso irá durar”, diz Aldrigui Carvalho.

Alexandre Sampaio, da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, concorda com a avaliação sobre a imagem ruim, mas aponta outro setor econômico que será prejudicado: o de agências de viagem que negociam as idas do brasileiro ao exterior.

“Quem trabalha com turismo internacional não vai receber nenhum investimento. Nossa imagem está muito ruim por ter se tornado um núcleo de difusão da doença, por conta das medidas que foram tomadas pelo governo. O turismo brasileiro está com uma imagem muito comprometida. Os brasileiros também não vão ser bem-vindo em outros países, então temos que investir no turismo interno”, diz Sampaio.

Atrelado ao turismo doméstico, especialistas apontam também que o transporte rodoviário, algo que perdeu as forças nos últimos anos principalmente pelo crescimento de viagens aéreas por famílias de classe média, deve ganhar investimento a partir do segundo semestre deste ano. Com informações do G1.

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