Segundo tipo de câncer mais comum entre os homens no Brasil, o câncer de próstata registrou 1.826 internações e 1.038 óbitos na Bahia até outubro deste ano, conforme dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Durante o Novembro Azul, período da campanha de conscientização sobre o combate a doença, especialistas alertam para os cuidados necessários que pacientes do sexo masculino devem ter com a saúde, em especial homens negros.
O alerta para pacientes negros chega após estudos mostrarem que eles apresentam maior chance de diagnóstico de câncer de próstata, sendo mais propícios de desenvolverem a doença. As pesquisas demonstraram que a enfermidade nesta população tem uma maior incidência e uma evolução mais agressiva.
O técnico de enfermagem e músico, Tita Lopes, de 69 anos, foi diagnosticado com câncer de próstata em 2021. O artista negro disse que descobriu a doença de forma tardia e passou por graves complicações oriundas do câncer.
“Antes de ser diagnosticado, fui fazer a biópsia e no exame foi constatado que eu já estava com o câncer avançado. Aí eu fui encaminhado para iniciar o tratamento. […] Senti alguns incômodos na região da virilha e na parte inferior dos testículos e do lado esquerdo da perna. Eu estava sentindo dificuldade e o câncer realmente tinha avançado para chegar a este ponto”, revelou Lopes.
“Graças a Deus, os resultados dos exames mostraram que todo o processo do câncer foi extinto, só que tenho que continuar fazendo as medicações orais para completar o tratamento, mas agora está tudo tranquilo comigo”, contou.
CAUSAS
Para entender melhor o que leva a pacientes negros a desenvolverem o câncer de próstata, o Bahia Notícias procurou o oncologista Augusto Mota. De acordo com o especialista, um dos motivos seriam as diferenças moleculares encontradas nas etnias.
Homens negros, segundo o oncologista, apresentam características que geram um grau de agressividade maior ao câncer de próstata. “Existe uma questão biológica por trás disso. Os tumores em negros costumam começar de próstata, começam em idade mais precoce e os tumores em negros costumam ter graus histológicos, né? Que é o tipo de tumor que aparece no microscópio, que são tumores mais agressivo. E a mortalidade por câncer em negros é maior do que a mortalidade por câncer em brancos, mesmo que eles recebam o mesmo tipo de tratamento”, relatou.
O especialista explicou ainda que o número de homens negros internados ou que morreram pela doença é superior ao da população de outras etnias. O médico contou ainda que questões socioeconômicas também influenciam para a agressividade do tipo de câncer na população negra.
“Quando você analisa o número enorme de pacientes e separa por grupo de etnia, é possível constatar que homens negros têm maior mortalidade. Na questão da mortalidade existem aspectos socioeconômicos que contribuem para isso, mas não é somente isso, tem uma questão biológica por trás”, detalhou.
O oncologista alertou também que a população negra de Salvador deve ter uma atenção maior em realizar o diagnóstico da doença de forma precoce, já que a cidade é uma das que mais possuem homens negros, que muitas vezes não tem acesso a tratamentos de saúde.
“Isso é uma coisa muito importante para nós de Salvador. Somos uma cidade negra. O negro precisa se preocupar com a próstata mais do que o branco, pois a doença acontece mais precocemente e de maneira mais agressiva como qualquer tumor, ela é mais curável se for mais precoce diagnosticado”, pontuou.
TRATAMENTO
Além de quimioterapia, o médico afirmou que outros procedimentos podem ser utilizados para tratamento de homens de diferentes etnias. “Os tratamentos são padrão, não há nenhum tipo de distinção de raça ou etnia. O tratamento do câncer de próstata é centrado em supressão da testosterona que é o hormônio masculino e alguns medicamentos coadjuvantes, acessórios vamos dizer assim. Muita coisa nova tem acontecido, mas o esteio do tratamento ainda é a supressão de testosterona”, completou.
Com informações do Bahia Notícias