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Resgate de presos, homicídio e tráfico: quem é o “Cantor do PCC”, mantido em liberdade pelo STJ

Elvis Riola de Andrade, de 46 anos, apontado como integrante do Primeiro Comando da Capital, o PCC, foi beneficiado após a Justiça manter uma liminar que garante a liberdade do “Cantor”. Ele é ex-diretor da escola de samba Gaviões da Fiel. Elvis foi colocado em liberdade na última terça-feira (5), após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Riola havia sido preso na Bolívia em 10 de janeiro e extraditado para o Brasil. Ele foi capturado em Santa Cruz de La Sierra, após um processo de inteligência da polícia boliviana com as autoridades brasileiras. Porém, um habeas corpus expedido em dezembro, pelo STJ, permitiu ao réu responder em liberdade.

Em uma denúncia do Ministério Público de São Paulo, Riola foi acusado de ser o responsável por executar o agente penitenciário Denilson Dantas Jerônimo, em 2009, a mando da cúpula do PCC.

Ainda na mesma denúncia, o MP aponta 175 supostos membros da facção paulista e detalham o funcionamento da organização, bem como a prática de crimes como tráfico de drogas e atentados com agentes públicos. Entre os denunciados estão Marco William Herbas Camacho, o Marcola. O processo corre em segredo de justiça.

No julgamento da liminar que decidiu pela liberdade do Cantor, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não utilizou a denúncia do MP em questão. Entretanto, a ficha criminal de Riola é extensa e tem crimes como roubo a transportadora, uso de armamento restrito, tráfico de drogas e de armas, além de resgate de preso na Cadeia Pública de Ituverava.

Roubo a transportadora

Em março de 2005 um grupo formado por Elvis e outros 5 membros invadiu uma transportadora em Embu das Artes, na Grande SP, portando metralhadoras e fuzis. Os bandidos levaram “diversos aparelhos eletrônicos, gêneros alimentícios, medicamentos, produtos de higiene, perfumaria, caminhões, armas de fogo, dentre outros bens, avaliados em R$ 2.720.000,00”, conforme diz o processo ao qual a CNN teve acesso.

Três anos mais tarde, a Justiça decidiu colocar os réus em liberdade provisória. O processo em questão foi juntado ao que acusa Riola de formação de quadrilha para a prática de crimes. Por falta de provas, o crime prescreveu e foi arquivado.

Resgate de presos

Meses depois, em outubro do mesmo ano, o Cantor e outros três suspeitos invadiram a cadeia pública de Ituverava, interior de São Paulo, portando armas de uso restrito como uma submetralhadora israelense automática, além de uma pistola semi-automática com numeração raspada e um fuzil búlgaro. Os mesmos ainda estavam usando coletes balísticos.

Segundo os autos, os suspeitos invadiram a cadeia, renderam um dos agentes penais, roubaram a arma do funcionário mediante ameaças de morte. Em seguida, ordenaram que o agente continuasse deitado em uma das salas, caso contrário, ele seria morto.

Além deste agente, eles renderam outros dois. O plano era resgatar um preso, no caso Cristiano Dias Ferreira, porém quando os denunciados inutilizaram uma porta metálica que dava acesso às celas, eles facilitaram a fuga de outros seis detentos.

Na saída, atiraram contra policiais militares, deteriorando uma viatura. Devido aos ferimentos causados em um dos agentes penais, os PMs desistiram de perseguir os suspeitos, de forma com que eles conseguissem fugir.

Em depoimento, as testemunhas, que foram os agentes penais, declararam que não conseguiram nem ver, tampouco identificar os suspeitos, pois a todo momento o bando mandava os agentes ficarem deitados ou de costas.

A defesa de Riola alegou que realizou diligências e que o réu não estava no local do crime, pois se encontrava na capital paulista, na festa de aniversário da filha, que à época tinha 1 ano.

Além desta alegação, os advogados de Riola também afirmaram que o reconhecimento das testemunhas foi nulo, além de que a denúncia do MPSP fora improcedente, não apontando efetivamente qual a conduta do réu e o que ele teria realmente feito na ação. Após o crime, em 2006, Riola foi preso, ficando apenas um mês no cárcere.

Quatorze anos depois, em 2019, uma decisão autorizada pelo Ministério Público ordenou a destruição das armas usadas no crime, assim como colocou o veículo, modelo Kadett, para leilão, pois devido ao tempo parado, havia se formado um criadouro de mosquitos, água parada, podendo causar doenças como a dengue.

A movimentação mais recente do processo que corre na comarca de Ituverava foi em setembro, e mostra que está nas alegações finais, após a apresentação do MP e dos advogados. Por ser físico, o processo foi remetido a uma empresa, para que ele seja digitalizado. Sendo assim, não há uma sentença definida.

Morte de agente penal

Denilson Dantas de Gerônimo era agente penal e trabalhava no Centro de Reabilitação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes. Ele foi assassinado a tiros em 2009, quando chegava em casa, na cidade de Álvares Machado (SP).

À época, Elvis morava na capital e não tinha relação com o Oeste Paulista, região do Estado onde ficam as cidades de Álvares Machado e Presidente Bernardes. Ele era diretor da escola de samba Gaviões da Fiel, de São Paulo.

Anos após o crime, o Cantor ficaria preso por quase dois anos em Presidente Venceslau, também no Oeste Paulista, conforme consta na ficha de Elvis na Secretaria de Administração Penitenciária, a SEAP.

Na época do crime, a noiva de Denilson, que presenciou o assassinato, reconheceu Riola o como autor dos disparos. Ele confessou o crime, apontado inclusive mandantes, sendo condenado a 15 anos de prisão pela Justiça, em regime inicial semiaberto, tendo o direito de responder em liberdade.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) aumentou a pena do Cantor para 16 anos, alterando o regime para fechado e reestabelecendo a prisão preventiva. Entretanto, a decisão do Superior de Justiça (citada no começo desta reportagem) revogou o pedido do TJSP.

No julgamento, a juíza Daniela Teixeira afirmou que, no processo em questão, o que estava em jogo era apenas a participação de Elvis na morte do agente, sem considerar a eventual relação com o PCC.

“O que me norteia é julgar com o que existe nos autos. A palavra da defesa, para esta magistrada, tem o mesmo peso da acusação. Com todo o respeito à imprensa, não tem lugar no processo judicial. O que saiu na imprensa sobre esse paciente eu não posso considerar. Nesse processo em julgamento, não tem a palavra ‘tráfico’, a palavra ‘organização criminosa’”, disse.

700 kg do “Música”

Além da imputação do homicídio, Riola é acusado de tráfico de drogas, onde o MPSP o associa com 700 kg de maconha apreendidos pela polícia.

Na denúncia, interceptações telefônicas ligam o Cantor a 727 kg de maconha e 2,9 kg de cocaína, apreendidos pela polícia em uma oficina mecânica na zona norte da capital.

Em um dos áudios, um dos investigados menciona a droga que chegou do “Música”, um dos apelidos dado a Elvis pela facção, está guardada em um cofre.

Nos autos, Rogério Jeremias, o Gegê do Mangue, uma das lideranças do PCC, que foi solto pela Justiça em 2018 e acabou assassinado durante uma emboscada no Ceará, afirma serem “700 [KG] para a família”. Em outra interceptação, a própria irmã de Elvis foi flagrada conversando com um dos investigados sobre a remessa de maconha

Vida de luxo na Bolívia

O Cantor, capturado em Santa Cruz de La Sierra, após um processo de inteligência da polícia boliviana com as autoridades brasileiras, levava uma vida de luxo, segundo o Ministério Público Paulista, com direito até a “chofer” no país vizinho, onde vivia com a mulher e cinco filhos. Segundo as investigações, Elvis possuia bares, restaurantes, veículos importados, além de um motorista particular.

Com informações da CNN | Foto: Reprodução/Redes Sociais

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