Das 16 capitais do Norte e do Nordeste, 15 ocupam as últimas posições do país na medição de indicadores sociais
O estudo Mapa das Desigualdades Sociais publicado hoje, 26, ao medir um conjunto de 40 indicadores sociais, aponta que as capitais das regiões Norte e Nordeste têm os piores números do país em dados como renda, saúde, saneamento e segurança pública.
Segundo o estudo, elaborado pela primeira vez pelo ICS (Instituto Cidades Sustentáveis), as duas regiões ocupam as 15 últimas posições do ranking entre as 26 capitais estaduais brasileiras, já que Brasília não aparece no levantamento.
A primeira colocada da lista é Curitiba (PR), seguida de Florianópolis (SC) e Belo Horizonte (MG). A classificação é o somatório dos indicadores sociais analisados. Curitiba liderou com 677 pontos, enquanto Porto Velho (RO), com 373 pontos, ficou na última posição.
Em indicadores como população abaixo da linha da pobreza, mortalidade infantil e homicídios por 100 mil habitantes, as taxas de capitais do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são até dez vezes superiores às do Norte e Nordeste.
Os indicadores do estudo são baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O Brasil firmou compromisso para combater até 2030 uma lista que inclui metas como erradicação da pobreza e da fome, redução das desigualdades e busca por paz, justiça e instituições eficazes.
Em nível Brasil, o mapa também analisou expectativa de vida, percentual de residências com ligação de esgoto, tempo médio de estudo do brasileiro, além de questões raciais e de gênero.
Em relação às unidades federativas, os autores do estudo veem uma disparidade estrutural na comparação entre as capitais. Para Jorge Abrahão, coordenador-geral do ICS, as políticas públicas no país tentam atacar os problemas de forma pontual, mas raramente conseguem solucionar as causas das desigualdades.
As cidades do Nordeste e do Nordeste são marcadas por pobreza, desemprego e violência. As capitais das duas regiões ocupam as cinco últimas posições do país em indicadores como PIB per capita, recebimento de benefícios sociais, índice de desocupação e taxas de homicídios, especialmente entre a população jovem.
O Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste, por outro lado, lideram a maioria dos quesitos. Um exemplo é a população abaixo da linha da pobreza: as menores taxas são Florianópolis (SC), com 1,1%; Curitiba, com 2,3%, e Cuiabá, com 2,7%. Na outra ponta estão Recife (PE), Rio Branco (AC) e Salvador (BA), que têm mais de 10% da população nessa condição.
A capital baiana foi um dos destaques negativos, já que o município ficou em último lugar em sete dos 40 indicadores sociais analisados pelo documento, entre as capitais. Alguns exemplos são os índices de renda, emprego e segurança pública.
O estudo, que usa os dados públicos mais recentes em cada indicador, também mostra a cidade no fim da lista em PIB per capita, desnutrição infantil, população abaixo da linha da pobreza, taxa de desocupação e jovens vítimas de homicídio, entre outros.
Salvador tem dez vezes mais pessoas abaixo da linha da pobreza em relação a Florianópolis (SC), dona da menor taxa. Enquanto a capital baiana tem 11,15% da população vivendo com US$1,90 por dia (R$9,45 no câmbio atual), a cidade catarinense tem 1,10% dos habitantes nessa faixa de renda.
A capital baiana tem os piores números de desnutrição infantil. Dados do SUS, colhidos pelo estudo, mostram que 4,03% das crianças de até 5 anos na cidade estavam desnutridas em 2021, ano do dado mais recente. Em Teresina (PI), líder nacional no quesito, essa taxa foi de 0,44%.
Salvador apresentou as piores taxas de desocupação. Com base em dados do IBGE, de 2023, o estudo aponta 16,7% da população acima de 14 anos da cidade em condição de desemprego, contra 3,4% em Campo Grande (MS), líder no quesito.
Os índices de violência também colocam a capital baiana nas últimas posições. Em 2021, Salvador foi a capital com a segunda maior taxa de homicídios, atrás de Macapá (AP), e a primeira em homicídios de jovens, de 15 a 29 anos. Nesse caso, o índice foi de 332,75 jovens mortos a cada 100 mil habitantes. Na capital paulista, esse índice foi de 7,6 no mesmo ano.
“Lamentavelmente, Salvador tem chamado atenção por índices ruins, mesmo sendo governada por gestões que supostamente investem mais em questões sociais. A cidade tem regiões onde a pobreza é alta e os níveis de moradia e saúde são muito precários, o que alimenta distúrbios como a violência urbana. Isso reduz perspectivas de futuro e cria um ciclo perverso”, lamentou Abrahão.
Confira os dados do mapa completo clicando aqui.
Com informações de UOL e Instituto Cidades Sustentáveis / Foto: Alberto Maraux