Comunicados divulgados nos últimos dias por pelo menos 11 países demonstram que o Brasil não está sozinho quando externa preocupação com as eleições venezuelanas, marcadas para o dia 28 de julho.
A impossibilidade do registro da candidatura de Corina Yoris, uma opositora do regime de Nicolás Maduro, na última segunda-feira (25) gerou reações de países como Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile e Equador, que lançam dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral venezuelano.
Vizinha da Venezuela, a Colômbia disse que medidas tomadas pelo governo Maduro podem afetar a “confiança” da comunidade internacional nas eleições. Além disso, os Estados Unidos disseram ver uma “escalada perturbadora” no país sul-americano. Após o fim do prazo para inscrição de candidaturas, a coalizão Plataforma Unitária Democrática, que reúne dez partidos de oposição, afirmou não ter conseguido registrar a candidatura de Corina Yoris.
Corina Yoris já havia sido escolhida porque a candidata inicial, María Corina Machado, havia sido inabilitada pela Suprema Corte venezuelana, alinhada a Maduro. Diante disso, a oposição deve apoiar o nome de Manuel Rosales, que conseguiu se inscrever de última hora no processo eleitoral.
Nesse contexto, diante da avaliação de desrespeito ao acordo que prevê eleições livres no país, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou comunicado no qual afirmou que:
acompanha situação no país vizinho com “preocupação”;
o processo “não é compatível” com o Acordo de Barbados; e
que não houve explicação sobre as acusações da oposição.
Comunicado do Brasil na íntegra:
Esgotado o prazo de registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelanas, na noite de ontem, 25/3, o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país. Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial.
Onze candidatos ligados a correntes de oposição lograram o registro. Entre eles, inclui-se o atual governador de Zulia, também integrante da Plataforma Unitaria.O Brasil está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que o pleito anunciado para 28 de julho constitua um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela, país vizinho e amigo do Brasil.O Brasil reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo.
Em resposta a esse comunicado brasileiro, a chancelaria venezuelana emitiu uma nota na qual afirmou que:
o país de Maduro tem uma das democracias “mais robustas” da região;
tem “moral” para exigir mais respeito; e
texto brasileiro parecia ter sido “ditado” pelo governo dos Estados Unidos.
Oficialmente, o Itamaraty não fez comentários sobre a reação venezuelana. Na condição de anonimato, um integrante da cúpula do ministério afirmou que a avaliação foi a de que, se respondesse, alimentaria o atrito diplomático de forma pública.
Essa fonte do Itamaraty ouvida pela GloboNews também disseque a nota venezuelana repete um padrão do regime de Maduro de relacionar críticas a uma suposta interferência dos EUA.
O que disseram outros países
Oito países em comunicado conjunto
Em um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores do Uruguai, um conjunto de oito países (Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai) manifestaram “grave preocupação” com o fato de Corina Yoris não ter conseguido registrar candidatura.
“A situação, descrevem esses países, leva a questionamentos sobre a integridade e a transparência do processo eleitoral “em sua totalidade .As restrições impedem o avanço na direção de eleições que permitam realizar um processo de democratização na irmã Venezuela , afirmaram os países no comunicado conjunto. Nós pedimos que a situação seja reconsiderada para que […] o povo irmão venezuelano possa eleger livremente seu próximo governo”, concluíram.
Colômbia
Em comunicado divulgado nesta terça (26), o governo da Colômbia manifestou “preocupação” sobre a forma com a qual o processo eleitoral no país se desenrola, principalmente em razão da impossibilidade de registro da candidatura de Corina Yoris.
Gustavo Petro quer promover a transição ecológica na Colômbia — Foto: Getty Images via BBC
“A Colômbia expressa sua preocupação com os recentes acontecimentos […] particularmente com as dificuldades que enfrentam setores majoritários da oposição […], as quais podem afetar a confiança de alguns setores da comunidade internacional na transparência e competitividade do processo eleitoral”, afirmou a chancelaria de Gustavo Petro.
Chile
Em meio às recentes prisões de opositores de Maduro, o governo de Gabriel Boric divulgou um comunicado em que diz que o governo venezuelano age de forma “contrária ao espírito democrático”. E acrescenta que a postura do regime contra opositores, por si só, já afetou o processo eleitoral no país e afrontou o Acordo de Barbados.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, em uma entrevista coletiva após a votação do plesbicito sobre o projeto de Constituição, em Punta Arenas, Chile, no último domingo, 4 de agosto. — Foto: AP Photo/Andres Poblete
“O governo do Chile se soma aos chamados formulados por instâncias multilaterais de direitos humanos para que a Venezuela ponha fim ao assédio contra os opositores políticos”, afirmou o governo chileno.
Estados Unidos
Sobre o mesmo episódio mencionado pelo governo chileno, o Departamento de Estado dos Estados Unidos — órgão responsável pelas relações internacionais do país — emitiu um comunicado no qual disse que a Venezuela vive uma escalada “perturbadora de repressão”.
“Essas ações, juntamente com a detenção de numerosos outros membros da oposição e da sociedade civil neste ano, bem como a contínua desqualificação de candidatos, minam a possibilidade de eleições competitivas”, afirmou o departamento.
O presidente americano Joe Biden — Foto: Leah Mills/Reuters
“Para garantir uma eleição democrática, que corresponda às expectativas do povo venezuelano, Maduro e seus representantes devem seguir os compromissos que fizeram em Barbados em outubro de 2023”, completou o governo Joe Biden.