Permanência, etimologicamente, é uma palavra que está ligada à ideia de continuidade marcada pela noção de persistência. Persistência, por sua vez, carrega em si a força da perseverança, explicada nos dicionários como “a determinação de seguir em frente, mesmo quando tudo parece difícil ou impossível.”
Quando a palavra permanência surge na mesma frase da palavra universidade, o que se espera é que um terceiro verbete também apareça na sentença: conclusão. No entanto, para alguns, esse arranjo perfeito só se torna real a partir da superação de muitas dificuldades. Estamos falando dos jovens de classes populares, trabalhadores que ingressam nas universidades públicas e são obrigados a driblar as adversidades para alcançar o tão sonhado superior completo.
Não, os caminhos não são os mesmos para todos. Explicitar essas trilhas é um dos objetivos do documentário Caminhos Abertos, da mestranda, pesquisadora e produtora audiovisual Bárbara Lima, natural de Seabra, na Chapada Diamantina.
Atualmente, Bárbara reside e estuda na cidade de Cachoeira, onde cursa o Mestrado em Comunicação na mesma instituição em que se graduou, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Por meio de um edital de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ela passou a estudar sobre como se dá o ingresso, a permanência e quais são os caminhos para que jovens, em sua maioria pretos, pobres e trabalhadores possam concluir a graduação em universidades públicas do interior baiano.
Dessa pesquisa, intitulada “Processo de Ingresso no Ensino Superior: transições, suportes e arranjos entre jovens de universidades públicas do Estado da Bahia”, coordenada pelos coletivos do Grupo de Estudos e Pesquisas em Juventude (GEPJUV), da UFRB, e do Grupo Trajetórias, Cultura e Educação (TRACE) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), surge como produto final o documentário.
Nele são apresentados os desafios à permanência universitária a partir da perspectiva e experiência dos novos perfis que constituem o corpo estudantil, indivíduos que dividem o tempo entre a graduação, o trabalho, a maternidade, o deslocamento intermunicipal ou quaisquer outros atravessamentos impostos pelas suas dinâmicas de vida.
De acordo com Bárbara, o documentário, que acaba de ser premiado no 5º Edital de Jornalismo de Educação, iniciativa da Jeduca, associação de jornalistas especializados em educação, em parceria com a Fundação Itaú, tem uma costura peculiar, alinhavada pelas suas próprias vivências enquanto aluna de uma instituição pública. O documentário ficou em segundo lugar na categoria Estudante, após concorrer com mais de 80 projetos.
“É bastante autobiográfico, voltado para entender quais são os perfis estudantis depois de pouco mais de dez anos de Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que interiorizou as universidades públicas. A gente já compreendia que a universidade mudou seu corpo estudantil, mas queríamos saber como isso se dava na UFRB e na UEFS”, contou Bárbara, que assina direção, roteiro e produção do doc.
Os personagens retratados foram escolhidos com base em pesquisas que desenharam os perfis que o grupo queria demonstrar. “Desde uma jovem mãe de uma zona rural até um estudante de pedagogia que mora em Feira de Santana em um bairro periférico. A gente quis mostrar como essa classe trabalhadora que é a maioria das e dos estudantes que estão nas universidades públicas, conseguem estar na universidade mesmo exercendo várias funções fora dela.”
Bárbara se diz fruto da interiorização das instituições federais desde o ensino médio, cursado no Instituto Federal da Bahia, em Seabra. “Esse é o fio condutor da minha militância enquanto comunicadora e estudante, então todas as vivências relatadas pelos personagens do documentário, são muitas narrativas que também já foram minhas”, destacou.
Sobre o prêmio, ela acredita que é uma consequência da forma íntima como o processo foi realizado e da congruência entre personagens e equipe. “Acho que o retorno sincero das pessoas que participaram foi o que fez o documentário alcançar o que alcançou.”
Ela completa contando que cada um pôde se ver no documentário como alguém que rompe barreiras e isso deu mais sentido ao trabalho. “Esse documentário só faz sentido porque faz sentido para as pessoas que participaram e falaram sobre suas narrativas”, reiterou.
O material que não foi usado inicialmente ainda deve virar uma série e está contribuindo para as suas pesquisas de mestrado. O foco é continuar trazendo para o debate as questões sobre o ingresso e permanência de jovens de classes populares, negros e pardos, de forma a contribuir para o próprio formato da educação.
“A comunicação e a educação fazem esse paralelo muito intrínseco, não tem como falar de um sem o outro. O próprio Paulo Freire traz isso nos termos de comunicação popular e educação popular, então eu acho bacana o diálogo entre essas áreas concomitantes e complementares”, completou.
Ananda Azevedo – Chapada News, o portal de notícias da Chapada Diamantina
